sexta-feira, 17 de agosto de 2012

17 de Agosto, dia de gala para o samba



Hoje, dia 17 de agosto, é um dia sagrado para o samba. No dia 17 de agosto nasceram dois dos maiores sambistas brasileiros - Candeia, em 1935; e Monarco, em 1933. Monarco faz hoje 79 anos em plena forma e é, na minha opinião, o maior sambista brasileiro vivo. Candeia, falecido em 1978, se vivo fosse faria hoje 77 anos. Dois monstros sagrados do samba brasileiro. Pena que nossos cantores e cantoras não incluam mais obras dessa dupla maravilhosa em seus shows. Pedir que a televisão aberta mostre a obra de Candeia e Monarco é pedir demais. Eles preferem Michel Teló. Paciência. Parabéns, Mestre Monarco! Axé, Candeia!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Enquanto isso no Brasil....


O Estadão de hoje publica uma pequena matéria, com foto, informando que o criminoso nazista mais procurado do mundo, Laszlo Csatary, de 97 anos, acusado de cumplicidade na morte de 15,7 mil judeus durante a 2ª Guerra, foi encontrado em Budapeste. Vivendo na capital húngara sob o nome de Smith L. Csatary, o criminoso nazista foi localizado após uma investigação do tabloide britânico The Sun. Dois jornalistas conseguiram não só fotografá-lo como chegaram a falar com ele. As informações sobre o paradeiro de Csatary foram enviadas em setembro de 2011 à promotoria da capital húngara. Em abril, o Centro Wiesenthal colocou Csatary no topo da lista dos criminosos de guerra mais procurados do mundo. Ele foi chefe da polícia no gueto de Kosice, hoje território da Eslováquia, e teria enviado 15,7 mil judeus para o campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia, durante a ocupação alemã da antiga Checoslováquia. Nascido na Hungria, Csatary foi condenado à morte à revelia em 1948 por um tribunal checo, mas desapareceu misteriosamente após se esconder nas cidades canadenses de Montreal e Toronto. Posteriormente, com uma identidade falsa, tornou-se comerciante de arte.Há cerca de 15 anos, autoridades canadenses descobriram a verdadeira identidade de Csatary. Por isso, ele voltou a desaparecer, desta vez escondendo-se na Hungria.
Enquanto isso, no Brasil, os criminosos que torturaram, assassinaram e desapareceram com algumas centenas de brasileiros que lutaram contra a ditadura continuam livres, leves e soltos.
Isso é inadmissível e inacreditável.
Já passou da hora do governo brasileiro punir todos os agentes públicos responsáveis pelas torturas, assassinatos e desaparecimentos que ocorreram durante a ditadura militar.
Espero que a Comissão da Verdade cumpra seu papel, identifique os criminosos que ainda não foram identificados -que são muito poucos, por sinal, já que a maiora já está identificada - e a Justiça faça seu papel, processando, condenando e prendendo esses criminosos.

domingo, 8 de julho de 2012

Lançamento de Antes do Passado, em Brasília


Na terça-feira, dia 10 de julho, a partir das 19 horas, na Livraria Cultura do Iguatemi, a jornalista Liniane Haag Brum, vai lançar seu livro "Antes do Passado, o silêncio que vem do Araguaia", contando a sua saga e da família em busca de informações sobre o corpo de seu tio, Cilon Cunha Brum, assassinado na Guerrilha do Araguaia. O livro é um relato punjente e emocionante dessa difícil trajetória dos familiares dos desaparecidos políticos. Convido a todos os meus amigos para que prestigiem esse evento. E publico um texto que fiz sobre o livro.

Cilon não foi enterrado. Foi semeado

Acabei de ler o livro Antes do Passado – o silêncio que vem do Araguaia, da jornalista e publicitária Liniane Haag Brum. Li de uma enfiada só, de cabo a rabo, da primeira à última página, aproveitando a monotonia de um sábado de folga.
O livro de Liniane foi um presente que me caiu no colo.
Na semana passada, meio que por acaso, trombei com Liniane no Facebook, ao receber um pedido para adicioná-la. Me chamou a atenção o sobrenome Brum e a adicionei.
Liniane é sobrinha e afilhada de Cilon Cunha Brum, o Comprido, um dos mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia.
Cilon foi meu companheiro de PCdoB, antes de partir para o Araguaia. Mais do que isso, foi ele quem formalizou meu ingresso no PCdoB, no final de 1970, quando eu e outros companheiros secundaristas entramos na USP e decidimos passar da AP para o PCdoB. Me lembro como se fosse hoje do nosso primeiro "ponto" na porta do Cine Belas Artes, na esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista. A partir daí passei a ter "pontos" semanais com Cilon, quase sempre no mesmo lugar. Nossa convivência durou alguns meses, quase um ano. E, apesar de ser uma convivência estritamente política, sempre tive um grande carinho pelo Comprido.
Pouco ou quase nada sabia da sua vida pessoal, como exigiam as rígidas regras de segurança da época. Apenas sabia que ele era estudante de Economia da PUC, gaúcho e se chamava Cilon, embora o tratasse sempre pelo codinome: Comprido.
Os pontos semanais com Comprido, religiosamente cumpridos, eram sempre muito prazerosos. Comprido era cativante. Alto, magro, cabelos pretos, lisos, repartidos ao meio, Comprido era sereno, tranquilo, camarada. Nossas conversas se limitavam à pauta política: análise de conjuntura, situação do Movimento Estudantil, tarefas da nossa Organização de Base, discussões políticas e debates teóricos. Mas sempre eram conversas saborosas, produtivas, cheias de ardor revolucionário. Comprido era o nosso orientador político. Nosso único contato com a estrutura partidária. Era ele que nos fazia sentir militantes do PCdoB.
Um belo dia, num desses "pontos" semanais, em meados de 1971, Comprido se despediu e anunciou que iria ser deslocado para outra tarefa partidária e que a partir da outra semana nosso contato seria feito com outra pessoa, a camarada Amélia, que nunca mais vi e até hoje não sei quem é. Marcamos o dia do "ponto", no mesmo local, acertamos a senha – afinal não conhecia Amélia e nos despedimos com um forte abraço.
Naquela época ainda não sabíamos da existência do Araguaia, nem que Comprido tinha sido deslocado para lá.
E nunca mais vi o Comprido
Ou melhor, vi sim. Por fotografia. Um ano depois, em maio de 1972, fui preso junto com outros companheiros de nossa base universitária pelo DOI-Codi do II Exército. Lá, durante os interrogatórios, os torturadores me apresentaram uma foto de Comprido e queriam saber se eu o conhecia. Admiti tê-lo conhecido, mas que não tinha mais contato com ele há mais de um ano. Foi o bastante para que as torturas recrudescessem. Apanhei uns três dias até que os torturadores se convencessem de que eu estava falando a verdade. Não via Comprido há mais de um ano e não fazia a menor ideia de onde ele poderia estar.
Anos depois, quando as primeiras notícias sobre a Guerrilha do Araguaia vieram à tona, soube que Cilon Cunha Brum era um dos mortos e desaparecidos na Guerrilha.
Sempre tive curiosidade em saber mais sobre Cilon, mas as informações sempre eram escassas, limitadas ao seu nome, foto e uma breve biografia publicadas nos livros e materiais que o PCdoB passou a publicar sobre a Guerrilha.
Dos quase 70 mortos no Araguaia, conheci três. Cilon, Helenira e Ribas. Com Helenira e Ribas nunca tive contato pessoal, apenas os encontrava esporadicamente, entre 1968 e 1969, em reuniões, assembleias e passeatas do Movimento Secundarista. Eles eram dirigentes da UBES. Mas com Cilon era diferente. Cilon era, pra mim, uma pessoa de carne e osso, com quem convivi de perto por quase um ano. Cilon era como se eu estivesse estado no Araguaia.
Conto isso para explicar porque o livro de Liniane me emocionou tanto.
Ao ler seu relato, parece que o tempo voltou e Cilon estava o tempo todo ao meu lado. O livro é ótimo e traz uma leitura diferente sobre o Araguaia. Não é uma reportagem, muito menos uma análise política ou ideológica da Guerrilha. É um singelo, emocionado e pungente depoimento pessoal de um familiar em busca de notícias e informações sobre a passagem de seu parente pelas matas do Sul do Pará.
É um relato pessoal que faltava na bibliografia sobre o Araguaia e mostra com crueza o sofrimento das famílias desses heróis do povo brasileiro que esperam até hoje os corpos de seus entes queridos para enterrá-los em paz.
O livro de Liniane tem vida, tem amor, tem emoção.
E comprova a necessidade urgente de se esclarecer definitivamente essa página da história do Brasil.
O livro de Liniane é um libelo cortante da luta dos familiares dos mortos e desaparecidos e uma prova de que nada justifica o silêncio do Estado e das Forças Armadas sobre a verdade dos anos de chumbo.
Uma frase do livro não me sai da cabeça e sintetiza tudo que senti na sua leitura: "Seu filho Cilon não foi enterrado. Foi semeado. Deixado em cima da terra como grão que um dia vai germinar", escreve Liniane numa de suas cartas à avó, informando-a sobre as notícias da busca por Cilon, que recheiam o livro e são um dos pontos fortes e emocionantes da obra. Nessa última carta, Liniane informa a avó ter descoberto que Cilon foi executado na mata, meses depois de ter sido preso pelo Exército, e seu corpo foi deixado na mata, insepulto, coberto apenas com alguns ramos de vegetação.
Liniane tem razão. Cilon foi semeado e a semente que germinou do seu corpo é a semente da liberdade!

O dia em que o Corinthians conquistou a América e fez história

Depois de uma interrupção de quase um mês, a partir de hoje volto a ativar os posts do blog, prometendo mantê-lo atualizado quase que diariamente. Como não poderia deixar de ser, vamos falar do fato mais importante da última semana: a conquista da Libertadores da América pelo Corinthians!



Uma linda e deslumbrante Lua de São Jorge brilhava nos céus de São Paulo e iluminava o Pacaembu às 23h53 do dia 4 de julho de 2012, onde 40 mil corinthianos, que representavam os mais de 30 milhões de loucos espalhados pelo Planeta, delirantemente extasiados e enlouquecidos, comemoravam o fim de mais um martírio e transformavam o velho e aconchegante Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, num verdadeiro Sanatório Geral, como bem definiu o corinthianíssimo Washington Olivetto.
Exatamente às 23h53 do dia 4 de julho de 2012, o Corinthians reescrevia a história, conquistava a tal Libertadores da América e se libertava de mais uma maldição, assim como já havia feito, anos antes, na noite do dia 13 de outubro de 1977.
A partir de agora, o 4 de julho não será mais conhecido como o Dia da Independência dos Estados Unidos, mas sim como o Dia da Independência da República Popular do Corinthians!
O Corinthians esperou 52 anos para ganhar a Taça Libertadores da América. Afinal, a Libertadores é disputada desde 1960. Ou para ser mais preciso, esperou 35 anos. Já que a primeira vez que o Corinthians participou desse torneio foi em 1977. E não 102 anos, como diziam os corvos, abutres e secadores de todos os matizes e todas as camisas.
Mas, quando ganhou, o fez em grande estilo. Como é do seu feitio e da sua tradição.
O Corinthians não é um time comum. É um time que veio para romper barreiras, para superar obstáculos, para fazer história.
O Corinthians foi campeão invicto da Libertadores de 2012, coisa que apenas um time brasileiro havia conseguido e na época em que o torneio tinha um formato menor que o atual – o Santos de Pelé, em 1963. Na época, o Santos fez apenas 4 jogos para ser campeão. 
O último campeão invicto havia sido o Boca Juniors, em 1978. E, além de Santos e Boca, apenas o Independiente, em 1964, o Estudiantes, em 1969 e 1970 e o Peñarol, em 1960, na primeira edição do Torneio, conseguiram ser campeões invictos. Todos esses times foram campeões com menos jogos que o Timão – o Penãrol fez 6 jogos, em 1960; o Independiente, 8 jogos, em 1974; o Estudiantes, 4 jogos, em 1969, e 4 jogos, em 1970; e o Boca, 6 jogos em 1978.
Este ano, o Corinthians fez 14 jogos. Haja diferença!
Além disso, o Corinthians foi campeão contra o poderoso e tradicionalíssimo Boca Juniors, coisa que nenhum time brasileiro, exceto o Santos, em 1963, havia conseguido. O Boca ganhou 4 finais de times brasileiros – Grêmio, em 2007; Santos, em 2003; Palmeiras, em 2000; e Cruzeiro, em 1977.
Ao contrário do Corinthians, campeão contra o Boca, os outros times brasileiros campeões da Libertadores ganharam seus títulos contra times de menor expressão no cenário futebolístico latino-americano. Exceções são o Santos, de Pelé, que ganhou do Peñarol e do Boca; o Cruzeiro, que ganhou do River Plate; e o Grêmio, que ganhou do Peñarol.
O Palmeiras ganhou do Deportivo Cali, da Colômbia. O Vasco da Gama ganhou do Barcelona de Guayaquil, do Equador. O Flamengo ganhou do Cobreloa, do Chile. O Cruzeiro ganhou do Sporting Cristal, do Peru. O Grêmio ganhou do Atlético Nacional, da Colômbia. O São Paulo ganhou do Atlético Paranaense, do Universidade do Chile e do Newells Old Boys, da Argentina. O Internacional ganhou do Chivas Guadalajara, do México, e do São Paulo.
Ou seja, exceto o Grêmio, que ganhou do Peñarol; o Cruzeiro, que ganhou o River Plate; o Internacional, que ganhou do São Paulo; e o Santos, que ganhou do Boca, na Era Pelé, e do decadente Peñarol, no ano passado, todos os títulos de times brasileiros foram contra adversários que nunca haviam sido campeões da Libertadores.
O Corinthians quebrou seu jejum e quebrou como gosta de fazer: fazendo história, quebrando tabus, batendo recordes.

Felizmente, eu estava lá para ver ao vivo e a cores esse momento histórico.
Depois de uma semana tensa, atrás de ingresso, acabei conseguindo os tão sonhados passaportes da alegria que permitiram que eu, meu filho Pedro Ivo, meu amigo Gilnei Rampazzo estivéssemos no Pacaembu, junto com os amigos corinthianos Samuca e seu filho Tomás, e Heraldo Pereira e suas filhas Maiara e Isadora.
Foi uma noite linda, emocionante, que ficará guardada para sempre na minha memória.
Ao final do jogo, fomos jantar no Sujinho da Consolação, tomado de corinthianos, cantando o nosso Hino e nossos gritos de guerra, e ainda tivemos a sorte de ver a bela atriz Alessandra Negrini, vestida do a camisa do Timão, entrar no restaurante, para juntar-se à quele bando de loucos.
Eram quase 3h30 da quinta-feira e as ruas de São Paulo eram palco de uma festa incontrolável. Na Praça Vilaboim, na sofisticada Higienópolis, um grupo de uns 100 corinthianos, desfilavam em volta da Praça, cantando o samba-enredo da Gaviões da Fiel, O que é com é pra sempre! - "Me dê a mão me abraça, viaja comigo pro céu, sou Gavião, levanta a taça, com muito orgulho, pra delírio da Fiel".
Foi inesquecível!

terça-feira, 12 de junho de 2012

A morte de um verdadeiro herói do esporte

O cubano tricampeão olímpico e mundial dos peso pesados de boxe, Teófilo Stevenson, morreu em Havana, vítima de um infarto aos 60 anos, informou a imprensa oficial de Cuba na noite de segunda-feira.
O lendário boxeador, que abriu mão do profissionalismo para defender Cuba nas Olimpíadas, conquistou a medalha de ouro nos Jogos de Munique-1972, Montreal-1976 e Moscou-1980. Também foi campeão mundial amador em 1974, 1978 e 1986, além de títulos pan-americanos e centro-americanos e do Caribe.
"Não mudaria nenhum pedaço de terra em Cuba por todo o dinheiro que possam me dar", disse Stevenson pouco depois de conquistar o ouro em Munique, ao recusar ofertas milionárias para se profissionalizar.
Um combate que sempre gerou expectativa no final da década de 1970 era um possível duelo com Muhammad Ali, mas o chamado "combate do século" nunca chegou a acontecer porque o cubano permaneceu como amador até o fim da carreira.
Stevenson se aposentou do esporte em 1988, após uma carreira de 20 anos em que venceu 301 das 321 lutadas disputadas.
O lutador era conhecido por sua pegada destruidora, sua arte no ringue com uma movimentação impressionante apesar de ser um peso pesado e pelo cavalheirismo, que lhe rendeu um troféu Fair Play (jogo limpo).
Ao lado do também cubano Félix Savón e do húngaro Lazlo Papp, Stevenson está entre os únicos boxeadores três vezes campeões olímpicos de forma sucessiva.
Conquistou sua primeira medalha de ouro apenas aos 20 anos, em 1972.
Stevenson nasceu em 29 de março de 1952 na cidade de Puerto Padre, na província de Las Tunas, e depois que se aposentou dos ringues passou a trabalhar como vice-presidente da Federação Nacional de Boxe de Cuba.
Stevenson é considerado um heroi nacional em Cuba e muito querido pelo ex-presidente Fidel Castro.
"O que é um milhão de dólares em comparação com o amor de oito milhões de cubanos?", disse Stevenson no auge da carreira.
Em tempos de MMA, um arremedo de esporte, movido exclusivamente a dinheiro e pancadaria, lembrar dos heróis do verdadeiro esporte é sempre bom.
Teófilo Stevenson é um desses heróis! Resistiu à todas as pressões e chantagens e se manteve até o fim da vida fiel à sua Pátria, que honrou como poucos.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Torturador tem a Medalha do Pacificador

O Correio Braziliense de hoje publica uma matéria, intitulada Estudiosa cria polêmica, dizendo que a divulgação na Internet, pela cientista política Maria Celina D ´Araújo, da relação de todos os agraciados pelo Exército Brasileiro com a Medalha do Pacificador, teria causado polêmica. Ontem, a coluna do Ancelmo Gois, no Globo, noticiou a divulgação da relação, dizendo que esse era um bom caminho para descobrir os nomes dos militares que participaram das campanhas contra a Guerrilha do Araguaia.
Na verdade, a relação dos que ganharam a Medalha do Pacificador pode revelar muito mais do que isso. Nela, com certeza, estão não só os militares que foram ao Araguaia, mas praticamente todos os principais torturadores da ditadura.
No final do regime militar, era prática usual nas redações consultar o Almanaque do Exército e listar os agraciados com a Medalha do Pacificador como um caminho para tentar descobrir os nomes de alguns torturadores.
A Medalha do Pacificador foi instituída pelo Decreto nº 39.745, de 17-8-1955, para homenagear  militares e civis, nacionais ou estrangeiros, que tenham prestado serviços ao Exército brasileiro, elevando o prestígio da Instituição ou desenvolvendo as relações de amizade entre o Exército Brasileiro e os de outras nações. Mas o filé mignon dessa honraria é a relação dos agraciados com a Medalha do Pacificador com Palma,  concedida aos militares e civis que, em tempo de paz, no exercício de sua função ou no cumprimento de missões de caráter militar, tenham se distinguido por atos pessoais de abnegação, coragem e bravura, com risco de vida.
Era tiro e queda. Ter recebido a Pacificador com Palma, entre 1970 e 1984, era sinal de envolvimento com a repressão política.
Nem todos os que ganharam a Medalha do Pacificador estiveram envolvidos com a repressão. Mas todos os que estiveram envolvidos com a repressão ganharam a medalha.
Uma rápida consulta à relação de mais de 30 mil nomes, divulgada pela cientista política Maria Celina D´Araújo, mostra que essa tese é correta.
Da relação dos agraciados com a Medalha do Pacificador e do Pacificador com Palma constam, por exemplo, nomes como os de Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-CODI do II Exército, de 1970 a 1974, um dos principais símbolos da tortura no Brasil e de alguns de seus subordinados, todos identificados como torturadores:  Davi dos Santos Araújo (Capitão Lisboa), Aparecido Laertes Calandra (Capitão Ubirajara), Maurício Lopes de Lima (identificado com um dos torturadores da presidenta Dilma), Dalmo Lúcio Muniz Cyrillo, que sucedeu Ustra no comando do DOI-CODI, Pedro Antônio Mira Granciere (Ramiro), Lourival Gaeta (Mangabeira), João Luiz Feijó Figueira (Dr. José), Altair Casadei, João José Vettorato (Amici),  Áttila Carmelo , Orestes Raphal Rocha Cavalcanti (Capitão Ronaldo) Octávio Gonçalves Moreira Junior, Antonio Vilela, Devanir Antonio Castro Queiroz e Audir Santos Maciel.
Além de outros notórios torturadores do DOI-CODI do Rio de Janeiro e da Casa da Morte, em Petrópolis, como Fredy Perdigão (Nagib), Enio Pimentel da Silveira (Dr. Ney), Adail de Oliveira e Cruz, Ailton Joaquim, os irmãos Jacy e Jurandyr Ochsendorf e Souza, envolvidos nas torturas ao ex-deputado Rubens Paiva, e Ricardo Agnese Fayad. Ou do famoso Sebastião Rodrigues de Moura, o Major Curió, um dos nomes mais notórios da repressão à Guerrilha do Araguaia.
No caso do Araguaia, uma consulta detalhada à lista dos detentores da Medalha do Pacificador e do Pacificador com Palma vai revelar, com certeza, o nome de vários militares que participaram das execuções do guerrilheiros lá comentidas.
É um bom roteiro de trabalho para a Comissão da Verdade.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça!

Hoje é um dia histórico para a democracia brasileira.
A presidenta Dilma Roussef, na presença dos ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva, instalou, oficialmente, no Palácio do Planalto, a Comissão da Verdade, criada pela Lei 12.528, de 18 de novembro de 2011, com a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas pelos agentes públicos, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.
As lágrimas da presidenta Dilma Roussef, ao lembrar dos mortos e desaparecidos políticos, na solenidade de hoje, são as lágrimas da Nação. São as lágrimas de centenas de mães, esposas, filhos que lutam há anos para terem o direito sagrado de enterrar seus entes queridos.
Vinte e sete anos depois da retomada da democracia em nosso país, a presidenta Dilma Roussef tem a coragem que dar mais um passo decisivo para o processo de efetiva consolidação do regime democrático, a exemplo do que já foi feito no Chile, na Argentina e no Uruguai.
A Comissão da Verdade é instalada no mesmo dia em que entra em vigor a Lei de Acesso à Informação Pública, que dá a qualquer cidadão o direito de solicitar, sem precisar explicar sua motivação, todo e qualquer documento público, como arquivos, planos de governo, auditorias, prestações de contas e informação de entidade privada que recebem recursos do poder público, o que reforça ainda mais a sua atuação.
O Brasil não pode mais continuar convivendo com o silêncio, a mentira, a dissimulação e com o fantasma que ronda a vida de centenas de famílias brasileiras que lutam por um direito elementar e sagrado: sepultar os corpos de seus entes queridos, mortos e desaparecidos pelos órgãos de repressão política da ditadura militar.
Não se trata aqui de revanchismo, como equivocamente apregoam alguns militares da reserva que temem que a verdade venha à tona. Trata-se, isso sim, de um resgate histórico.
Como disse a presidenta Dilma em seu discurso: "A comissão não abriga ressentimento, ódio nem perdão. Ela só é o contrário do esquecimento".
O Brasil tem o direito de saber onde e como cerca de 379 brasileiros, dos quais 150 ainda são dados como desaparecidos, foram assassinados pelos agentes da repressão. Mais do que isso, tem o direito de saber onde estão os corpos desses 150 brasileiros tidos como desaparecidos para que suas famílias possam enterrá-los com dignidade.
Os sete integrantes da Comissão da Verdade são nomes de notória reputação e respeitabilidade jurídica, profissional e política e nos dão a garantia de que os trabalhos dessa Comissão serão realizados com rigor, seriedade e isenção.
Ao contrário do que alardeiam ex-militares, alguns deles profundamente comprometidos com a repressão da ditadura, a função da Comissão da Verdade não é punir os responsáveis pelas mortes e desaparecimentos desses brasileiros, que lutaram em defesa da democracia e da liberdade.
A função da Comissão da Verdade é, como deixa bem claro a Lei que a criou, esclarecer os fatos e as circunstância dos casos de graves violações de direitos humanos, esclarecer os casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados, ocultação de cadáveres, identificar e tornar públicos as estruturas, os locais, as instituições e as circunstâncias relacionadas à prática de violação de direitos humanos e promover a reconstrução da história de violações dos direitos humanos e colaborar para que seja prestada assistência às vítimas dessas violações.
Trata-se, portanto, de um reencontro com a nossa história. Para que não se esqueça e para que nunca mais aconteça.
Não podemos entrar na falsa polêmica estimulada por ex-militares comprometidos no passado com a repressão política e seus crimes de que a Comissão da Verdade precisa ouvir “os dois lados”.
Como bem definiu o professor da UFF, Daniel Aarão Reis, em artigo no Globo de ontem, não existiram dois lados, como num combate convencional. Houve sim o Estado, com todo o seu aparato repressivo contra algumas centenas de brasileiros que se insurgiram contra a ditadura, numa luta extremamente desigual, onde membros das Forças Armadas, Polícias Militares e Civis praticaram crimes de lesa-humanidade. São esses crimes que cabe, agora, à Comissão da Verdade investigar e esclarecer.
Ou como disse o insuspeito diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, um dos integrantes da Comissão da Verdade: “Não tem essa historia de dois lados, o outro lado já foi suficientemente condenado, assassinado, desaparecido”.
O Brasil espera que a Comissão da Verdade, ao final dos seus dois anos de trabalho, consiga oferecer respostas conclusivas à sociedade brasileira, a questões como as levantadas pela Folha de São Paulo de hoje, e que ainda estão sem respostas:
O que o Exército fez com os guerrilheiros do Araguaia presos com vida e que continuam desaparecidos?; como morreu Vladimir Herzog?; quem matou o ex-deputado Rubens Paiva? O que fizeram com Stuart Angel Jones, filho de Zuzu Angel? quem foram os torturadores nos porões da repressão? o que aconteceu no DOI-CODI do II Exército, um dos maiores centros da repressão política, onde morreram cerca de 50 presos, de setembro de 1970 a junho de 1975?; o que ocorreu na Casa da Morte, em Petrópolis e no Sitio 31 de março, em São Paulo? como funcionou a Operação Condor, aliança entre ditaduras do Brasil, do Chile, do Uruguai e da Argentina?; onde foram enterradas as vítimas do regime militar?; como morreram João Batista Drummond, preso na Chacina da Lapa, Carlos Nicolau Danielli, Alexandre Vanucchi Leme, entre outros? O que aconteceu como Honestino Guimarães?, entre outras.
O que o Brasil quer e precisa é ter respostas sobre essas e outras questões que elucidem e esclareçam os casos dos nossos mortos e desaparecidos. E essa é a principal tarefa da Comissão da Verdade.
Julgar e punir os responsáveis por esses crimes é outra questão, que não está nas atribuições da Comissão da Verdade.
O que não podemos é continuar convivendo com o silêncio, a mentira, a dissimulação ou a desfaçatez, como a do coronel do exército Maurício Lopes de Lima, identificado como um dos torturadores da hoje presidente Dilma Roussef, no DOI-CODI do II Exército, que em entrevista ao Globo de ontem teve a cara de pau de dizer que a cadeira do dragão, um dos mais notórios instrumentos de tortura utilizados nos porões do regime militar, “servia apenas para prender os braços do detento”.
A hoje presidenta Dilma Roussef e tantos outros brasileiros que sofreram com as torturas nos porões da ditadura sabem que isso não é verdade.
Ao esclarecer tudo que efetivamente ocorreu durante a ditadura militar, a Comissão da Verdade estará, também, contribuindo para que fatos como aqueles nunca mais se repitam.
Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

A imprensa não está acima das leis e da ética

As relações promíscuas da Veja com Carlinhos Cachoeira e o crime organizado precisam ser tratadas com seriedade, sem radicalismos, preconceitos ou clichês. E principalmente sem querer confundir críticas às posturas pouco éticas da grande imprensa e seus barões com ataque à liberdade de expressão ou de imprensa.
Não se trata disso.
A verdade, ou o buraco, é mais embaixo.
Nos últimos 12 anos, a grande imprensa especializou-se em combater os governos Lula e Dilma. Se fizesse isso apenas nos Editoriais, seria ético e legítimo. Mas não foi isso que aconteceu. Os jornalões, a TV Globo, a CBN e seus colunistas políticos optaram por um jornalismo engajado, anti-Lula e Dilma, trocando a reportagem e a apuração séria, criteriosa e isenta pela divulgação de dossiês que lhes caem nas mãos, muitas vezes forjados, manipulados, plantados, e pelo jornalismo de opinião, onde se defende teses e posições politicas, e não a informação isenta, bem apurada e, como ensinam os manuais de redação, ouvindo-se sempre o outro lado.
A questão não é se um jornalista tem bandidos como fontes. Isso é normal e legítimo. Mas sim o uso que o jornalista faz das informações que lhe são repassadas pelos bandidos. E, mais grave do que isso, se se deixa manipular ou ser dirigido pelos interesses desses bandidos.
A grande imprensa não está interessada em informar a sociedade, mas sim em desqualificar o governo e seus defensores. Para isso mente, manipula, distorce fatos, cria super-heróis - Demóstenes Torres foi um deles, e demônios.
Esse tipo de jornalismo-panfleto segue uma velha máxima que se ouvia antigamente em certas redações: "Se os fatos não coincidem com a opinião do editor, pior pros fatos".
Como se isso não bastasse, os jornalistas que ousam criticar ou questionar essa postura em blogs e nas redes sociais são logo carimbados de "chapa-brancas". Antigamente eram carimbados de "comunistas".
Está na hora dos jornalistas e da sociedade travarem esse debate de forma franca e desarmada de paixões.
Afinal, a imprensa não está acima das leis, nem dos julgamentos éticos.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Haja Cachoeira!


A cada dia que surgem  novas denúncias, informações, gravações e vazamentos sobre os tentáculos do bicheiro Carlinhos Cachoeira fica mais evidente o quanto o cidadão era poderoso. Sua organização criminosa parece ser gigantesca, atingindo de municípios pequenos, como Águas Lindas de Goiás, a estados inteiros, partidos políticos, governadores, prefeitos, parlamentares federais, estaduais, distritais, obras públicas federais, postos de gasolina, lixo, etc, etc,etc.
Pelo que já veio à tôna, Carlinhos Cachoeira é uma verdadeira Angel Falls, a maior cachoeira do mundo, localizada no Parque Nacional de Canaima, na Venezuela. Perto de Cachoeira, os grandes bicheiros do Rio de Janeiro, Castor de Andrade, Anísio Abrahão David, Luisinho Drummond, Capitão Guimarães e outros de menor calibre parecem inocentes e frágeis batedores de carteira.
É de impressionar.

sábado, 28 de abril de 2012

Consciência do dever cumprido

         
          Depois de 4 anos na presidência da ARUC, chegou a hora de sair. A alternância de poder é uma salutar prática democrática, que deve ser sempre estimulada, praticada e exercida.
          Ao me despedir, quero, em primeiro lugar, agradecer a todos os que me ajudaram nesses dois mandatos, aos meus companheiros de diretoria, aos funcionários, aos integrantes de todos os segmentos da escola de samba e a toda a comunidade cruzeirense.
          Saio com a consciência do dever cumprido.
          Durante esses dois mandatos consecutivos, tivemos grandes e importantes vitórias.
  Ganhamos três dos quatro carnavais que disputamos e o que perdemos, neste ano, foi por um detalhe, por um erro localizado, que foi rigorosamente penalizado por um jurado. Mas sei que fizemos um carnaval competitivo, digno das nossas tradições. Perdemos, como poderíamos ter ganho. Na verdade, não perdemos, deixamos de ganhar.
         Administrativamente, organizamos a entidade, honramos todos os nossos compromissos financeiros, regularizamos pendências financeiras antigas, como o parcelamento de uma dívida com a Caesb, que se arrastava desde 2000, entre outras, e saímos do Carnaval sem dívidas e com o dinheiro do prêmio em caixa. Menos do que gostaríamos, é verdade, mas com o que foi possível, diante de um carnaval feito em tão pouco tempo e com tantas dificuldades. Não temos dívidas e as pendências judiciais que ainda enfrentamos não foram provocadas por nós, mas por terceiros, como a relativa ao Carnaval de 2009.
          Além disso, retomamos o espaço onde funcionava a academia, o reformamos, assim como fizemos outras reformas na área de ensaios, ao lado da piscina, ampliando os espaços da ARUC para suas atividades e para a comunidade.
   O Projeto Fabricando Carnaval, que vem sendo realizado há 3 anos, ampliou as possibilidades de capacitação profissional dos nossos componentes envolvidos com o processo de montagem e organização do Carnaval, com reflexos positivos que já podem ser sentidos na prática.
          Nesses 4 anos, nossa entidade ocupou generosos espaços na mídia, consolidou-se como uma referência local e nacional no Mundo do Samba, melhorou sua interlocução com o governo federal e distrital e a Uniesbe, ampliou sua participação em eventos públicos, como o desfile oficial de 7 de setembro e o Carnaval da Presidência da República, e privados, com a presença cada vez mais solicitada do ARUC SAMBA SHOW, manteve no ar e com atualizações constantes o blog e o site oficial da entidade, promoveu grandes shows, como há muito tempo não acontecia, e realizou uma histórica e emocionante festa dos nossos 50 anos, com a presença da Velha Guarda da Portela, que encheu de orgulho e alegria os corações de todos os cruzeirenses.
         Também cometemos erros, é claro. Ou deixamos de fazer algumas coisas que precisam ser feitas. Afinal, ninguém é infalível, perfeito, imune a erros. Somos humanos e todos erramos.  Entre nós não existe nenhum super-homem. É preciso ter coragem e humildade para assumir os erros.
         Ainda nos falta uma melhor organização administrativa, precisamos profissionalizar a administração do bar, ter mais agilidade no processo de prestação de contas, maior democratização das decisões, mais participação do Conselho de Administração e do Conselho Fiscal na gestão da entidade, dinamizar as atividades esportivas e culturais, maior envolvimento dos componentes na gestão do Carnaval e, principalmente, implantar instrumentos permanentes de preparação de novos quadros dirigentes e para o Carnaval, como, por exemplo, a Bateria Mirim e as oficinas de Mestre-Sala e Porta-Bandeira e de passistas, entre outras. Precisamos cuidar melhor da ARUC do futuro.
          Também deixamos de encontrar uma solução para o nosso maior e crônico problema estrutural: a baixa capacidade de arrecadação. A ARUC não tem mecanismos próprios de arrecadação que lhe permita arcar com tranquilidade com seus compromissos financeiros permanentes. Equacionar esse problema é, ao lado de uma solução definitiva para regularizar a área que ocupamos, nosso maior desafio.
          Mas é importante deixar claro que os erros cometidos não foram por descuido, descaso ou omissão. Sempre fiz o possível para acertar, sempre pensei no melhor para a entidade, sempre estive aberto a ouvir as opiniões de todos. Sem vaidades, sem personalismos, sem estrelismos, sem mandonismos, sem autoritarismo, sem agressividade, sem gritos ou tapas na mesa. Sempre com serenidade, humildade e respeito a todos. Mas também sem fugir da minha responsabilidade de decidir, quando foi preciso.
          Ao me despedir, desejo boa sorte aos novos dirigentes da ARUC, eleitos hoje, dia 28 de abril.
          Mesmo ausente fisicamente, meu coração azul e branco sempre estará com vocês.
           Saudações Cruzeirenses
   Moacyr de Oliveira Filho – Moa
   Brasília, 28 de abril de 2012

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Sindicato dos Jornalistas abre guerra contra CQC

O Sindicato dos Jornalistas do DF deu uma bola dentro e divulgou uma nota oficial protestando contra a atitude irresponsável dos humoristas do CQC que têm criado problemas e constrangimentos para a atividade dos jornalistas profissionais em solenidades e eventos oficiais em Brasília. Na nota o Sindicato pede que os humoristas do CQC não tenham mais acesso à esses eventos oficiais.
O Sindicato está certo e tem toda a razão.
Eu sempre disse que é preciso separar jornalistas de humoristas. O CQC não é um programa jornalístico, é um programa humorístico. E seus humoristas não deveriam ter acesso a credenciais de imprensa para eventos e solenidades oficiais.
Se Valéria e Janeth, do Zorra Total, não têm credenciais de imprensa porque os engraçadinhos do CQC têm de ter?
É uma questão de bom senso e não tem nada a ver com censura ou restrição à liberdade de imprensa.
Trata-se apenas de limitar os espaços e colocar cada um no seu quadrado.
Espero que o CQC se toque e mude a postura agressiva, irresponsável, deselegante e grosseira dos seus humoristas.
Para fazer humor não é preciso agredir as pessoas, sejam elas quem forem, muito menos desrespeitá-las. Basta ter talento, ironia, sensibilidade, inteligência e graça.
Coisas, aliás, cada vez mais raras no CQC.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Salve Jorge!


Hoje, dia 23 de abril, é Dia de Jorge! Dia do santo mais popular do Brasil. Sincretizado com Oxóssi, na Bahia, e com Ogun, no Rio de Janeiro, São Jorge é o santo guerreiro que acalenta a alma, os sonhos e as esperanças do povo brasileiro. Hoje é feriado na Bahia e no Rio de Janeiro. Deveria ser feriado em todo o país, pois Jorge é a cara do Brasil. Não por acaso padroeiro do Corinthians, São Jorge é a síntese do povo brasileiro: valente, guerreiro, lutador, audacioso. Inspirador de poetas, seresteiros e namorados, São Jorge é cultuado nos terreiros de umbanda e candomblé, nas igrejas, nas escolas de sambas, nos bares, nas casas, casebres, barracos e malocas, nas ruas, nos becos e vielas do país e da alma do nosso povo.
Salve Jorge!

sábado, 21 de abril de 2012

Brasília é seu povo, sua gente, sua cultura. Não seus políticos ridículos.


Brasília é maior que seus pífios governantes e seus ridículos políticos. Brasília nasceu do sonho de um santo, da ousadia de um presidente e do talento e inventividade de Niemeyer e Lúcio Costa.
Brasília é seu povo, sua gente, sua cultura.
Brasília é a ARUC, é o Pacotão, é Carlos Elias, é Cássia Eller, é Renato Russo, é o Esquadrão da Vida, é Os Melhores do Mundo, é o Boi do Teodoro, é o Liga Tripa, é a UnB, é Ivan da Presença, é a Via Sacra de Planaltina, é o Clube do Choro, é o Festival de Cinema, é Raul de Xangô, é a Água Mineral, é o Beirute, é o céu que é seu mar, é Nicolas Behr, é Honestino Guimarães.
Brasília é Fernando Lemos que, por ironia do destino, foi enterrado no dia do aniversário de Brasília, que tanto amou.
Essa é a Brasília que aprendemos a amar e acreditar. Essa é a Brasília que estamos ajudando a construir.
A outra, a Brasília da lama, da corrupção, das Caixas de Pandora, das orações da propina, dos Agnulos, vai passar, por insignificante e desprezível.
Mas a nossa Brasília, a que pulsa viva nas superquadras, eixos, tesourinhas, becos e vielas vai ficar para sempre em nossos corações.
É pra essa Brasília que batemos cabeça e damos os parabéns!

terça-feira, 17 de abril de 2012

CQC não é jornalismo. É humorismo.

As palhaçadas dos "humoristas" estão passando dos limites e ontem criaram mais um constrangimento em Brasília. Credenciado para acompanhar o encontro de  Hillary Clinton com o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, o repórter do “CQC” Mauricio Meirelles provocou a fúria dos jornalistas ao final da entrevista, ao se levantar e oferecer uma máscara de Carnaval à secretária de Estado americano.
O encontro estava sendo transmitido ao vivo pela Globo News quando ocorreu o incidente. Meirelles já havia causado irritação ao gritar “I love you, Hillary” enquanto cinegrafistas registravam, dentro do Itamaraty, a chegada da secretária.
Hillary e Patriota, deixando o local, ouviram espantados parte da troca de ofensas entre a equipe do “CQC” e jornalistas que se sentiram prejudicados pela intervenção de Meirelles. Houve até quem gritasse: “Isto não é palhaçada! O que a imprensa do resto do mundo vai dizer do Brasil?”
Em seu Twitter, Meirelles contou: “Um dos jornalistas me chamou pra porrada e ameaçou meu produtor. Foi onde tudo começou”. Quem estava perto ouviu o repórter do “CQC” responder: “Vamos lá fora então”.
Havia cerca de 100 jornalistas presentes na entrevista. Segundo o repórter Mauricio Savarese, do UOL, Claudia Bomtempo, da Rede Globo, disse aos colegas que fez “uma reclamação formal” contra Meirelles junto à assessoria do Itamaraty.
Essas palhaçadas do pessoal do CQC já passaram dos limites. É preciso dar uma basta nisso e deixa claro uma coisa: o CQC não é um programa jornalístico. É um programa humorístico e de qualidade duvidosa, na maioria das vezes. Portanto, só há uma solução para evitar novos vexames: não credenciar o CQC para coberturas jornalísticas.
Jornalismo é uma coisa. Humor, show e besteirol são outra completamente diferente.
Cada um na sua praia e ponto final.

domingo, 15 de abril de 2012

Cilon não foi enterrado. Foi semeado!

Acabei de ler o livro Antes do Passado - o silêncio que vem do Araguaia, da jornalista e publicitária Liniane Haag Brum. Li de uma enfiada só, de cabo a rabo, da primeira à última página, aproveitando a monotonia de um sábado de folga.
O livro de Liniane foi um presente que me caiu no colo.
Na semana passada, meio que por acaso, trombei com Liniane no facebook, ao receber um pedido para adicioná-la. Me chamou a atenção o sobrenome Brum e a adicionei.
Liniane é sobrinha e afilhada de Cilon Cunha Brum, o Comprido, um dos mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia.
Cilon foi meu companheiro de PCdoB, antes de partir para o Araguaia. Mais do que isso foi ele quem formalizou meu ingresso no PCdoB, no final de 1970, quando eu e outros companheiros secundaristas entramos na USP e decidimos passar da AP para o PCdoB. Me lembro como se fosse hoje do nosso primeiro "ponto" na porta do Cine Belas Artes, na esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista. A partir daí passei a ter "pontos" semanais com Cilon, quase sempre no mesmo lugar. Nossa convivência durou alguns meses, quase um ano. E, apesar de ser uma convivência estritamente política, sempre tive um grande carinho pelo Comprido. Pouco ou quase nada sabia da sua vida pessoal, como exigiam as rígidas regras de segurança da época. Apenas sabia que ele era estudante de Economia da PUC, gaúcho e se chamava Cilon, embora o tratasse sempre pelo codinome: Comprido.
Os pontos semanais com Comprido, religiosamente cumpridos, eram sempre muito prazerosos. Comprido era cativante. Alto, magro, cabelos pretos, lisos, repartidos ao meio, Comprido era sereno, tranquilo, camarada. Nossas conversas se limitavam à pauta política: análise de conjuntura, situação do Movimento Estudantil, tarefas da nossa Organização de Base, discussões políticas e debates teóricos. Mas sempre eram conversas saborosas, produtivas, cheias de ardor revolucionário. Comprido era o nosso orientador político. Nosso único contato com a estrutura partidária. Era ele que nos fazia sentir militantes do PCdoB.
Um belo dia, num desses "pontos" semanais, em meados de 1971, Comprido se despediu e anunciou que iria ser deslocado para outra tarefa partidária e que a partir da outra semana nosso contato seria feito com outra pessoa, a camarada Amélia, que nunca mais vi e até hoje não sei quem é. Marcamos o dia do "ponto", no mesmo local, acertamos a senha - afinal não conhecia Amélia e nos despedimos com um forte abraço.
Naquela época ainda não sabíamos da existência do Araguaia, nem que Comprido tinha sido deslocado para lá.
E nunca mais vi Comprido.
Ou melhor, vi sim. Por fotografia. Um ano depois, em maio de 1972, fui preso junto com outros companheiros de nossa Base universitária pelo DOI-CODI do II Exército. Lá, durante os interrogatórios, os torturadores me apresentaram uma foto de Comprido e queriam saber se eu o conhecia. Admiti tê-lo conhecido, mas que não tinha mais contato com ele há mais de um ano. Foi o bastante para que as torturas recrudescessem. Apanhei uns 3 dias até que os torturadores se convencessem de que eu estava falando a verdade. Não via Comprido há mais de um ano e não fazia a menor ideia de onde ele poderia estar.
Anos depois, quando as primeiras notícias sobre a Guerrilha do Araguaia vieram à tôna, soube que Cilon Cunha Brum era um dos mortos e desaparecidos na Guerrilha.
Sempre tive curiosidade em saber mais sobre Cilon, mas as informações sempre eram escassas, limitadas ao seu nome, foto e uma breve biografia publicadas nos livros e materiais que o PCdoB passou a publicar sobre a Guerrilha.
Dos quase 70 mortos no Araguaia, conheci três. Cilon, Helenira e Ribas. Com Helenira e Ribas nunca tive contato pessoal, apenas os encontrava esporadicamente, entre 1968 e 1969, em reuniões, assembleias e passeatas do Movimento Secundarista. Eles eram dirigentes da UBES. Mas com Cilon era diferente. Cilon era, pra mim, uma pessoa de carne e osso, com quem convivi de perto por quase um ano. Cilon era como se eu estivesse estado no Araguaia.
Conto isso para explicar porque o livro de Liniane me emocionou tanto.
Ao ler seu relato, parece que o tempo voltou e Cilon estava o tempo todo ao meu lado.
O livro é ótimo e traz uma leitura diferente sobre o Araguaia. Não é uma reportagem, muito menos uma análise política ou ideológica da Guerrilha. É um singelo, emocionado e pungente depoimento pessoal de um familiar em busca de notícias e informações sobre a passagem de seu parente pelas matas do Sul do Pará.
É um relato pessoal que faltava na bibliografia sobre o Araguaia e mostra com crueza o sofrimento das famílias desses heróis do povo brasileiro que esperam até hoje os corpos de seus entes queridos para enterrá-los em paz.
O livro de Liniane tem vida, tem amor, tem emoção.
E comprova a necessidade urgente de se esclarecer definitivamente essa página da história do Brasil.
O livro de Liniane é um libelo cortante da luta dos familiares dos mortos e desaparecidos e uma prova de que nada justifica o silêncio do Estado e das Forças Armadas sobre a verdade dos anos de chumbo.
Uma frase do livro não me sai da cabeça e sintetiza tudo que senti na sua leitura: "Seu filho Cilon não foi enterrado. Foi semeado. Deixado em cima da terra como grão que um dia vai germinar", escreve Liniane numa de suas cartas à avó, informando-a sobre as notícias da busca por Cilon, que recheiam o livro e são um dos pontos fortes e emocionantes da obra. Nessa última carta, Liniane informa a avó ter descoberto que Cilon foi executado na mata, meses depois de ter sido preso pelo Exército, e seu corpo foi deixado na mata, insepulto, coberto apenas com alguns ramos de vegetação.
Liniane tem razão. Cilon foi semeado e a semente que germinou do seu corpo é a semente da liberdade!

quinta-feira, 12 de abril de 2012

40 anos da Guerrilha do Araguaia

                              
Hoje, dia 12 de abril, se comemora os 40 anos da Guerrilha do Araguaia.
No dia 12 de abril de 1972, pela primeira vez, as tropas do Exército desembarcaram no Sul do Pará, dando início à guerrilha. Os combates se arrastaram até o início de 1975 e mobilizaram cerca de 5 mil homens para combater 79 guerrilheiros e 17 camponeses que aderiram ao movimento.
Praticamente todos os guerrilheiros foram presos, assassinados e estão desaparecidos até hoje. Localizar seus corpos e devolvê-los às suas famílias é um resgate histórico que o Brasil precisa fazer.
Por coincidência, ontem, meio que por acaso, encontrei no facebook Liniane Haag Brum, sobrinha de Cilon Cunha Brum, um dos mortos na Guerrilha do Araguaia, que acaba de lançar o livro Antes do Passado, contando a história de Cilon e a luta da família em busca do seu corpo.
Esse encontro, ainda que virtual, foi um momento de muita emoção para mim. Cilon, o "Comprido", foi meu companheiro de Movimento Estudantil, em 1970 e 1971, até ser deslocado para o Araguaia. Estudante de Economia da PUC em São Paulo, foi Cilon quem me recrutou para o PCdoB, quando passei no vestibular e entrei na Faculdade de Economia da USP, em 1970, e dava assistência política à base do PCdoB na USP. Tinha "pontos" semanais com ele, normalmente na porta do Cine Belas Artes, na Rua da Consolação, em São Paulo.
Um certo dia, ele se despediu dizendo que tinha sido deslocado para outra tarefa.
Não sabíamos para onde ele tinha ido, nem sabíamos, na época, da existência do Araguaia. Apenas sabíamos que havia a organização de um movimento de resistência à ditadura no campo.
Em maio de 1972, menos de um mês depois do início da Guerrilha, fui preso pelo DOI-CODI do II Exército, e os torturadores queriam que eu revelasse onde estava "Comprido". Apanhei uns três dias até eles se convencerem de que eu falava a verdade ao dizer que não sabia do seu paradeiro.
No aniversário da Guerrilha, rendo minha homenagem ao querido "Comprido", publicando a foto da sepultura que sua família mantém à espera do seu corpo, e a todos os outros mortos e desaparecidos no Araguaia.
Heróis do povo brasileiro!

terça-feira, 10 de abril de 2012

A Capital do Caos

Não bastasse a greve que já dura um mês e azucrina a vida das famílias que têm filhos em escolas públicas, os professores resolveram, no final da manhã desta terça-feira, infernizar a vida de todos os brasilienses, mesmo os que não têm filhos em escolas públicas. Certamente com a cumplicidade criminosa da PM, que por sinal faz um operação tartaruga há semanas e comemora o aumento da violência e da criminalidade, os professores simplesmente interditaram todas as pistas do Eixo Monumental, na altura do Palácio do Buriti, na hora do almoço, enquanto realizavam mais uma das suas festivas Assembleias, transformando a ida para casa na hora do almoço num verdadeiro inferno. O trânsito ficou caótico com reflexos por toda a área central da cidade.
Um evidente exagero dos professores, que interditaram a via, e da PM, que permitiu e protegeu a interdição.
Reflexos de uma cidade sem comando, sem governo, sem controle, onde PMs comemoram o crime, professores invadem salas de aula para impedir que seus colegas trabalhem, hospitais públicos não avisam familiares de mortes de parentes internados, buracos se espalham pelas vias, etc, etc.
Triste Brasília.

sábado, 7 de abril de 2012

Descaso até na morte

É impressionante o descaso do GDF com a saúde pública. Descaso até com a morte.
Esta semana faleceu no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), Jorge Fernandes da Silva, vítima de hemorragia interna provocada por problemas renais crônicos. Jorge faleceu às 17 horas da terça-feira, dia 3 de abril. Mas seus familiares só souberam da sua morte, na quinta-feira, dia 5 de abril, dois dias depois, quando um deles foi ao HRAN visitá-lo. Ao chegar no Hospital foi informado do falecimento. Ou seja, o HRAN não teve sequer o cuidado de informar os familiares do paciente de seu óbito, apesar de na sua ficha constar dois telefones de uma irmã.
Mais grave do que isso foi o estado em que os familiares encontraram Jorge na Anatomia do HRAN, quando foram reconhecer o corpo. Jogado no chão, numa espécie de gaveta improvisada, em cima de uma poça d'água, certamente provocada pelo descongelamento das pedras de gelo colocadas no seu corpo, apenas com o órgão genital coberto por um saco preto de lixo, todo sujo de sangue, como se fosse um animal. A cena chocou os familiares e até mesmo o funcionário da funerária contratada pela família para cuidar do sepultamento. Mesmo acostumado a lidar com a morte, o funcionário da funerária ficou indignado com a cena, que revela o descaso com que o HRAN trata os que morrem nas suas dependências.
Um hospital público que não respeita seus mortos, que não avisa os familiares do falecimento, não pode tratar bem da vida. Simplesmente lamentável!
Ainda mais se lembrarmos que o DF é governado por um médico.
Os rios de dinheiro gastos em publicidade pelo GDF tentando mostrar que a saúde está uma maravilha viram inutilidade diante de cenas como as que a família de Jorge viveu esta semana e que, certamente, devem ser vividas todos os dias por outras famílias do DF.
Em tempo, vocês não conhecem Jorge Fernandes da Silva, mas certamente já o viram, alguma vez, nos programas humorísticos da TV Globo. Jorge foi durante muitos anos figurante da Globo, participando de cenas do Zorra Total e da Turma do Didi.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O samba perde Ederaldo Gentil

Vocês não vão ver essa notícia na tv, nem ouvir suas músicas no Fantástico, no Faustão, na Xuxa, no Caldeirão, nem mesmo no Esquenta, que, por sinal, acabou domingo passado, nem no rádio. Muitos de vocês, aliás, não devem nem saber da sua existência ou, pior, não devem nem saber que na Bahia também existem sambistas, e dos bons.
Mas eles existem sim e um deles morreu na sexta-feira - Ederaldo Gentil, autor de algumas obras-primas, gravadas por Maria Bethânia, Beth Carvalho, Alcione, Elza Soares, Gilberto Gil, Luiz Melodia, entre outros, como a genial O ouro e a madeira, que reproduzo aqui.
Enquanto isso, ficamos sabendo ontem, pelo Faustão, que a música do ano é Ai se eu te pego, do tal de Michel Teló.
Simplesmente ridículo, lamentável, deprimente.
Triste Brasil!

sexta-feira, 30 de março de 2012

Ditadura não se comemora

Amanhã, dia 31 de março, é uma data de triste memória para a História do Brasil. Em 1964, há 48 anos, os militares davam um golpe de estado derrubando o governo constitucional de João Goulart, instalando no país uma ditadura militar que durou longos e tenebrosos 21 anos. Nesse período, o país viveu dias sombrios. As liberdades e direitos individuais foram suprimidos, a imprensa censurada, o Congresso Nacional fechado, milhares de brasileiros foram presos, perseguidos, torturados, exilados e centenas desses foram assassinados nos porões dos órgãos da repressão política ou estão até hoje desaparecidos. De acordo com o livro “Direito à memória e à verdade”, publicado, em 2007, pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 475 pessoas morreram ou desapareceram por motivos políticos nesse período, das quais cerca de 140 são consideradas desaparecidas.
A maioria dos brasileiros de hoje não viveram os anos de chumbo da ditadura e sabem muito pouco sobre tudo o que aconteceu nesse período.
Esta semana, militares da reserva, muitos deles diretamente ligados com a repressão política da época da ditadura e, portanto, responsáveis diretos ou indiretos por essas mortes, organizaram atos de comemoração do 31 de Março.
Isso é um escárnio com a história e a memória dos mortos e desaparecidos.
O 31 de março, ao contrário do que dizem os militares, não foi uma Revolução. Foi um golpe de Estado que instalou no país um ditadura militar.
E ditadura não se comemora.
Seria a mesma coisa que os alemães comemorarem o surgimento do nazismo.
Ditadura deve ser lembrada sempre para que nunca mais se repita.
Como diz o slogan da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos:  Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Mangueira teu cenário é uma beleza?

Será mesmo que os versos do Hino da Mangueira continuam atuais?
A Mangueira, sempre amparada num poderoso esquema de marketing e mídia, vendeu a imagem de ser uma escola pura, uma vestal do samba, uma espécie de Demóstenes Torres do samba, onde os banqueiros do jogo do bicho não entravam e não mandavam. Uma escola sem patronos. Uma escola onde quem dava as cartas era a comunidade.
Será que é assim mesmo?
Sem querer criar polêmica, e já criando, quem vive de perto o chamado Mundo do Samba sabe que não é bem assim.
A Mangueira realmente não tem bicheiros. Mas tem sim uma forte influência dos traficantes do Morro da Mangueira na sua gestão.
Os que vivem de perto o Mundo do Samba sabem de inúmeros episódios onde o tráfico de drogas teria dado as cartas  em importantes decisões da Estação Primeira de Mangueira.
Agora, mais um episódio torna pública essa relação promíscua e perigosa.
Na tarde de ontem, a quadra da Mangueira  foi invadida por um grupo de traficantes armados na hora em que quatro advogados que compunham a comissão eleitoral analisavam a legalidade da inscrição das chapas inscritas na eleição presidencial da Verde e Rosa, prevista para acontecer no dia 28 de abril. Os traficantes expulsaram os advogados, roubaram todos os livros contendo as atas eleitorais da escola,  exigiram a saída de Ivo Meirelles da presidência e o retorno de um carnavalesco campeão para a verde e rosa.
O episódio só confirma uma coisa que muita gente está careca de saber: o tráfico de drogas tem muita força e poder na gestão da Estação Primeira de Mangueira.
Caiu a máscara de vestal do samba.
Triste Mangueira!

Rir de quê?

Não é mole não. Em pouco tempo, perdemos dois gênios do humor, da inteligência, da ironia, da mordacidade fina, elegante, demolidora. Primeiro Chico Anísio, um humorista de verdade. Agora, Millôr Fernandes. Um refinado intelectual multimídia que fez do humor a sua arma.
Triste Brasil!
Agora vamos rir de quê?
Da mediocridade do Pânico na TV? Da grossura travestida de humor dos meninos do CQC? Das baboseiras do BBB?
Pobre e triste Brasil!

Basta de intermediários

O jornalista Palmério Dória lançou hoje no facebook uma campanha que tem meu apoio amplo, integral e irrestrito: BASTA DE INTERMEDIÁRIOS, CACHOEIRA PARA A PRESIDÊNCIA DO DEM.
E eu vou mais além: Com Demóstenes Torres na tesouraria....

sexta-feira, 16 de março de 2012

Lamentável....

Rápido no gatilho, como costumam ser os pistoleiros do Sul do Pará, o juiz federal João Cesar Otoni de Matos, da Vara Federal de Marabá,  negou hoje (16) pedido do Ministério Público Federal para processar Sebastião Curió Rodrigues de Moura, conhecido como major Curió, pelo desaparecimento de cinco militantes que participaram da Guerrilha do Araguaia na década de 1970. Segundo a decisão, a Lei de Anistia deve ser aplicada e, mesmo que não houvesse essa opção, o crime está prescrito.
Além disso, na Folha de hoje, o Advogado-Geral da União, Luis Inácio Adams, contrariando posição do governo que deveria defender, expressa formalmente pela Ministra da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, criticou a ação do MP, dizendo que iniciativas para punir militares acusados de tortura, assassinatos e sequestros não são "adequadas".
Inadequadas são declarações como essas do Advogado-Geral da União que vão na contramão do governo que, insisto, deveria defender.
Espero que a presidenta Dilma dê um pito nesse senhor e o enquadre.
A decisão da Justiça de Marabá, cidade onde Curió sempre teve força e que serviu de base de apoio para as tropas que reprimiram a Guerrilha do Araguaia, igualmente é lamentável.
Vamos ver se os Procuradores do MP encontram outro caminho para fazer valer sua tese sobre o crime de sequestro e conseguem abrir a justa e  necessária ação penal contra Curió.

Ação contra Curió é um xeque mate na ditadura

Esta semana, um grupo de procuradores da República entrou com uma ação penal contra o coronel da reserva do Exército, Sebastião Rodrigues de Moura, o famoso e temido major Curió (na foto à direita), por sequestro qualificado e mais tratos a cinco militantes que desapareceram na repressão à Guerrilha do Araguaia durante a ditadura civil-militar. A ação criminal é a primeira contra agentes do aparato repressivo do Estado na ditadura no Brasil.
A ação é histórica e pode criar uma importante jurisprudência, derrubando, na prática, a surrada tese dos militares que participaram da repressão política na ditadura de que a Lei da Anistia apagou todos os seus crimes. A tese que sustenta a ação contra Curió é de que os desaparecidos políticos foram vítimas de sequestro qualificado, crime não contemplado pela Anistia, e que não prescreve. O crime de sequestro só se encerra em duas hipóteses: com o aparecimento da vítima ou de seu corpo.
Essa ação penal abre um novo capítulo na luta pelo direito à memória e à verdade e coloca em xeque os militares que participaram da repressão política na ditadura e são responsáveis por inúmeros casos de tortura, assassinatos e desaparecimentos de militantes políticos.
Espera-se, agora, novas ações penais contra outros torturadores famosos, notórios e ainda vivos, como, por exemplo, o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra (na foto, à esquerda), que comandou nos anos 70 o temido DOI-CODI do II Exército, em São Paulo, onde dezenas de militantes foram torturados e mortos. Ustra é um dos principais líderes da direita militar e mora no Lago Norte, em Brasília.
Justiça neles!

quarta-feira, 7 de março de 2012

Um crime contra Cuba

Uma nota na coluna de Ancelmo Gois, no Globo de hoje, revela que a CVC, maior operadora de turismo do Brasil, aderiu ao bloqueio econômico a Cuba, depois que foi comprada pelo grupo norte-americano Carlyle, e não está mais vendendo pacotes turísticos para a Ilha.
Se isso for verdade, a atitude da CVC é criminosa e precisa ser punida. As autoridades brasileiras, tanto da área econômica, como da área diplomática, devem ser acionadas para impedir que esse comportamento conrtinue sendo adotado pela empresa. Afinal, o Brasil não só mantém relações diplomáticas normais com Cuba, como é contrário ao bloqueio norte-americano.
O governo deve entrar em ação para impedir que esse crime continue sendo praticado por uma empresa brasileira.

sábado, 3 de março de 2012

É muita desfaçatez

Importante, oportuno e preciso o programa especial feito por Miriam Leitão, que está sendo exibido esta semana pela Globo News, sobre o desaparecimento do ex-deputado federal Rubens Paiva, assassinado nos porões do DOI-CODI do I Exército, na Rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro, em 1971, e dado até hoje como desaparecido político. O programa, com quase uma hora de duração, é fruto de uma competente e rigorosa apuração que resgata a veia jornalística de Miriam Leitão, ofuscada, ultimamente, pela sua faceta de arauto do neo-liberalismo tucano e profeta do fim do mundo. Ganhou o jornalismo, ganhou a história, ganhou a verdade. Essa é a Miriam Leitão que eu conheci e aprendi a admirar.
Mas o que chama mais atenção no programa, não é a comprovação de que Rubens Paiva foi assassinado sob tortura no DOI-CODI carioca, coisa que todos já sabiam. O que chama a atenção é a desfaçatez do general de reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva, que a pretexto de criticar a instalação da Comissão da Verdade, repete os velhos chavões da direita radical, nega a tortura, e, de forma irônica e desrespeitosa, insinua que a presidenta Dilma, insinuando não foi torturada e chega a propor que a presidenta seja convocada pela Comissão da Verdade para depor sobre o atentado ao QG do II Exército, praticado pela VAR-PALMARES, organização a qual Dilma pertencia, onde morreu um soldado do Exército.
A desfaçatez do general é sem limites e não pode ficar impune. Nem ele, nem nenhum outro militar, da ativa ou da reserva, que tenha se manifestado criticamente conta a Comissão da Verdade, o ministro da Defesa, Celso Amorim, e a presidenta Dilma.
Os militares tem hierarquia e disciplina e devem obediência à presidenta Dilma, Comandante Suprema das Forças Armadas.
Cadeia neles. Primeiro, por desobediência e quebra da hierarquia. Depois pelos crimes que cometeram durante a ditadura militar e que devem ser rigorosamente apurados.
Mas o programa tem, ainda, outro ponto muito importante. A tese defendida pelo Promotor da Justiça Militar do Rio de Janeiro, Otávio Bravo, de que Rubens Paiva e outros desaparecidos políticos foram sequestrados pelo Estado e, por isso, não podem ser incluídos na Lei da Anistia, como defendem, num tenebroso samba de uma nota só, os militares. Segundo o promotor, que reabriu o caso de Rubens Paiva e outros 38 desaparecidos políticos do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, o crime de sequestro só se extingue ou prescreve com a liberdade do sequestrado ou o aparecimento de seu corpo.
Mas falta uma coisa na reportagem de Miriam Leitão: ouvir os irmãos Jurandir Ochsendorf e Souza e Jacy Ochsendorf e Souza, na época sargentos do Exército, lotados no DOI-CODI da Barão de Mesquita, que tem seus nomes intimamente ligados ao assassinato de Rubens Paiva. Ao que consta, os dois ainda estão vivos e moram em Brasília.
Veja a reportagem completa aqui.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Pescador era Pedro....

O apóstolo Pedro, fundador da Igreja Católica e seu primeiro Papa, era pescador.
Marcelo Crivela e seu tio, Edir Macedo, fundadores da Igreja Universal do Reino de Deus, certamente nunca pescaram, nem no Pesque Pague.
No máximo, eles são pescadores de almas. Ou de dízimos. Ou de votos.
A escolha de Marcelo Crivela para Ministro da Pesca é mais um dos absurdos da política e das articulações políticas, onde votos valem mais do que competência técnica.
Fazer de Crivela Ministro tem um objetivo claro: neutralizar Celso Russomano, candidato do PRB à Prefeitura de São Paulo e beneficiar a candidatura de Fernando Haddad, candidato inventado pelo Lula, que patina nos baixos índices de intenção de voto. E, é claro, agradar a poderosa bancada evangélica no Congresso Nacional, da qual Crivela é um dos caciques.
Mas a escolha do novo ministro mostra, também, a inutilidade do tal Ministério da Pesca. Uma bobabgem inventada apenas para ser mais uma moeda de troca.
E, pela sua importância, uma moeda de 5 centavos.

Ecos do Carnaval

Depois de um recesso forçado, motivado pelos meus compromissos carnavalescos, volto a movimentar esse Baralho a 4, com o espírito de sempre: um bate-papo animado, como se numa mesa de bar ou de carteado, sobre tudo que vier na cabeça e der na telha.
Pra recomeçar, a pauta óbvia: os ecos do Carnaval que passou.
Em Brasília, uma surpresa: a Acadêmicos da Asa Norte, que não ganhava nada há 27 anos, foi a campeã do Carnaval, batendo a soberana ARUC por míseros 0,5 de diferença, consequência de uma rigorosa e, na minha opinião, exagerada nota 9,2, dada por um jurado do quesito Harmonia à ARUC. Não fosse isso, a ARUC teria sido campeã mais uma vez. Mostrou um carnaval bonito, alegre, competente, mas cometeu um erro e foi duramente penalizada por isso. Como se diz, cabeça de jurado é difícil de entender.
Quem viu o desfile ou as fotos do desfile percebe, claramente, que o resultado não refletiu o que se viu na Passarela.
Mas, de qualquer forma, parabéns à Asa Norte, que voltou a vencer e revive, assim, uma histórica, sadia e tradicional rivalidade com a ARUC. ARUC e Asa Norte são como Corinthians e Palmeiras ou Flamengo e Vasco. Um não vive sem o outro.
A Asa Norte saiu da crise em que estava mergulhada há alguns anos, foi inteligente ao escolher os 50 anos da UnB como enredo e prestar homenagens a Ari Cunha e Jorge Ferreira- o que atraiu a simpatia de uma parcela dos formadores de opinião e volta a escrever seu nome entre as grandes escolas de samba de Brasília.
Sem falar na parceria com o Sindicato dos Bancários, que melhorou muito a organização interna da entidade. Só é preciso tomar cuidado para evitar que o Sindicato, o PT, a CUT, ou quem quer que seja não aparelhem a escola.
Afinal, samba é samba, partido é partido e sindicato é sindicato.

No Rio, ganhou de novo a Unidos da Tijuca, uma mistura de Circo Du Soleil com Escola de Samba, que não me agrada. Mas a grande injustiçada foi a minha Portela. Dona do melhor samba-enredo do ano e da bateria mais premiada pela crítica especializada, a Portela recebeu apenas uma nota 10 entre as 4 possíveis de bateria (o que é inexplicável), uma única nota 10 entre as 4 de Comissão de Frente ( o que é também inexplicável) e não teve nenhum 10 entre os 4 jurados de Harmonia, coisa difícil de engolir diante do emocionante e aguerrido desfile que fez na Marques de Sapucaí.
Enfim, coisas de jurados.
Mas, de qualquer forma, mesmo com o sexto lugar, a Portela voltou a ser Portela e encheu de orgulho os corações portelenses.