sábado, 3 de março de 2012

É muita desfaçatez

Importante, oportuno e preciso o programa especial feito por Miriam Leitão, que está sendo exibido esta semana pela Globo News, sobre o desaparecimento do ex-deputado federal Rubens Paiva, assassinado nos porões do DOI-CODI do I Exército, na Rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro, em 1971, e dado até hoje como desaparecido político. O programa, com quase uma hora de duração, é fruto de uma competente e rigorosa apuração que resgata a veia jornalística de Miriam Leitão, ofuscada, ultimamente, pela sua faceta de arauto do neo-liberalismo tucano e profeta do fim do mundo. Ganhou o jornalismo, ganhou a história, ganhou a verdade. Essa é a Miriam Leitão que eu conheci e aprendi a admirar.
Mas o que chama mais atenção no programa, não é a comprovação de que Rubens Paiva foi assassinado sob tortura no DOI-CODI carioca, coisa que todos já sabiam. O que chama a atenção é a desfaçatez do general de reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva, que a pretexto de criticar a instalação da Comissão da Verdade, repete os velhos chavões da direita radical, nega a tortura, e, de forma irônica e desrespeitosa, insinua que a presidenta Dilma, insinuando não foi torturada e chega a propor que a presidenta seja convocada pela Comissão da Verdade para depor sobre o atentado ao QG do II Exército, praticado pela VAR-PALMARES, organização a qual Dilma pertencia, onde morreu um soldado do Exército.
A desfaçatez do general é sem limites e não pode ficar impune. Nem ele, nem nenhum outro militar, da ativa ou da reserva, que tenha se manifestado criticamente conta a Comissão da Verdade, o ministro da Defesa, Celso Amorim, e a presidenta Dilma.
Os militares tem hierarquia e disciplina e devem obediência à presidenta Dilma, Comandante Suprema das Forças Armadas.
Cadeia neles. Primeiro, por desobediência e quebra da hierarquia. Depois pelos crimes que cometeram durante a ditadura militar e que devem ser rigorosamente apurados.
Mas o programa tem, ainda, outro ponto muito importante. A tese defendida pelo Promotor da Justiça Militar do Rio de Janeiro, Otávio Bravo, de que Rubens Paiva e outros desaparecidos políticos foram sequestrados pelo Estado e, por isso, não podem ser incluídos na Lei da Anistia, como defendem, num tenebroso samba de uma nota só, os militares. Segundo o promotor, que reabriu o caso de Rubens Paiva e outros 38 desaparecidos políticos do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, o crime de sequestro só se extingue ou prescreve com a liberdade do sequestrado ou o aparecimento de seu corpo.
Mas falta uma coisa na reportagem de Miriam Leitão: ouvir os irmãos Jurandir Ochsendorf e Souza e Jacy Ochsendorf e Souza, na época sargentos do Exército, lotados no DOI-CODI da Barão de Mesquita, que tem seus nomes intimamente ligados ao assassinato de Rubens Paiva. Ao que consta, os dois ainda estão vivos e moram em Brasília.
Veja a reportagem completa aqui.

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