segunda-feira, 16 de julho de 2012

Enquanto isso no Brasil....


O Estadão de hoje publica uma pequena matéria, com foto, informando que o criminoso nazista mais procurado do mundo, Laszlo Csatary, de 97 anos, acusado de cumplicidade na morte de 15,7 mil judeus durante a 2ª Guerra, foi encontrado em Budapeste. Vivendo na capital húngara sob o nome de Smith L. Csatary, o criminoso nazista foi localizado após uma investigação do tabloide britânico The Sun. Dois jornalistas conseguiram não só fotografá-lo como chegaram a falar com ele. As informações sobre o paradeiro de Csatary foram enviadas em setembro de 2011 à promotoria da capital húngara. Em abril, o Centro Wiesenthal colocou Csatary no topo da lista dos criminosos de guerra mais procurados do mundo. Ele foi chefe da polícia no gueto de Kosice, hoje território da Eslováquia, e teria enviado 15,7 mil judeus para o campo de extermínio de Auschwitz, na Polônia, durante a ocupação alemã da antiga Checoslováquia. Nascido na Hungria, Csatary foi condenado à morte à revelia em 1948 por um tribunal checo, mas desapareceu misteriosamente após se esconder nas cidades canadenses de Montreal e Toronto. Posteriormente, com uma identidade falsa, tornou-se comerciante de arte.Há cerca de 15 anos, autoridades canadenses descobriram a verdadeira identidade de Csatary. Por isso, ele voltou a desaparecer, desta vez escondendo-se na Hungria.
Enquanto isso, no Brasil, os criminosos que torturaram, assassinaram e desapareceram com algumas centenas de brasileiros que lutaram contra a ditadura continuam livres, leves e soltos.
Isso é inadmissível e inacreditável.
Já passou da hora do governo brasileiro punir todos os agentes públicos responsáveis pelas torturas, assassinatos e desaparecimentos que ocorreram durante a ditadura militar.
Espero que a Comissão da Verdade cumpra seu papel, identifique os criminosos que ainda não foram identificados -que são muito poucos, por sinal, já que a maiora já está identificada - e a Justiça faça seu papel, processando, condenando e prendendo esses criminosos.

domingo, 8 de julho de 2012

Lançamento de Antes do Passado, em Brasília


Na terça-feira, dia 10 de julho, a partir das 19 horas, na Livraria Cultura do Iguatemi, a jornalista Liniane Haag Brum, vai lançar seu livro "Antes do Passado, o silêncio que vem do Araguaia", contando a sua saga e da família em busca de informações sobre o corpo de seu tio, Cilon Cunha Brum, assassinado na Guerrilha do Araguaia. O livro é um relato punjente e emocionante dessa difícil trajetória dos familiares dos desaparecidos políticos. Convido a todos os meus amigos para que prestigiem esse evento. E publico um texto que fiz sobre o livro.

Cilon não foi enterrado. Foi semeado

Acabei de ler o livro Antes do Passado – o silêncio que vem do Araguaia, da jornalista e publicitária Liniane Haag Brum. Li de uma enfiada só, de cabo a rabo, da primeira à última página, aproveitando a monotonia de um sábado de folga.
O livro de Liniane foi um presente que me caiu no colo.
Na semana passada, meio que por acaso, trombei com Liniane no Facebook, ao receber um pedido para adicioná-la. Me chamou a atenção o sobrenome Brum e a adicionei.
Liniane é sobrinha e afilhada de Cilon Cunha Brum, o Comprido, um dos mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia.
Cilon foi meu companheiro de PCdoB, antes de partir para o Araguaia. Mais do que isso, foi ele quem formalizou meu ingresso no PCdoB, no final de 1970, quando eu e outros companheiros secundaristas entramos na USP e decidimos passar da AP para o PCdoB. Me lembro como se fosse hoje do nosso primeiro "ponto" na porta do Cine Belas Artes, na esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista. A partir daí passei a ter "pontos" semanais com Cilon, quase sempre no mesmo lugar. Nossa convivência durou alguns meses, quase um ano. E, apesar de ser uma convivência estritamente política, sempre tive um grande carinho pelo Comprido.
Pouco ou quase nada sabia da sua vida pessoal, como exigiam as rígidas regras de segurança da época. Apenas sabia que ele era estudante de Economia da PUC, gaúcho e se chamava Cilon, embora o tratasse sempre pelo codinome: Comprido.
Os pontos semanais com Comprido, religiosamente cumpridos, eram sempre muito prazerosos. Comprido era cativante. Alto, magro, cabelos pretos, lisos, repartidos ao meio, Comprido era sereno, tranquilo, camarada. Nossas conversas se limitavam à pauta política: análise de conjuntura, situação do Movimento Estudantil, tarefas da nossa Organização de Base, discussões políticas e debates teóricos. Mas sempre eram conversas saborosas, produtivas, cheias de ardor revolucionário. Comprido era o nosso orientador político. Nosso único contato com a estrutura partidária. Era ele que nos fazia sentir militantes do PCdoB.
Um belo dia, num desses "pontos" semanais, em meados de 1971, Comprido se despediu e anunciou que iria ser deslocado para outra tarefa partidária e que a partir da outra semana nosso contato seria feito com outra pessoa, a camarada Amélia, que nunca mais vi e até hoje não sei quem é. Marcamos o dia do "ponto", no mesmo local, acertamos a senha – afinal não conhecia Amélia e nos despedimos com um forte abraço.
Naquela época ainda não sabíamos da existência do Araguaia, nem que Comprido tinha sido deslocado para lá.
E nunca mais vi o Comprido
Ou melhor, vi sim. Por fotografia. Um ano depois, em maio de 1972, fui preso junto com outros companheiros de nossa base universitária pelo DOI-Codi do II Exército. Lá, durante os interrogatórios, os torturadores me apresentaram uma foto de Comprido e queriam saber se eu o conhecia. Admiti tê-lo conhecido, mas que não tinha mais contato com ele há mais de um ano. Foi o bastante para que as torturas recrudescessem. Apanhei uns três dias até que os torturadores se convencessem de que eu estava falando a verdade. Não via Comprido há mais de um ano e não fazia a menor ideia de onde ele poderia estar.
Anos depois, quando as primeiras notícias sobre a Guerrilha do Araguaia vieram à tona, soube que Cilon Cunha Brum era um dos mortos e desaparecidos na Guerrilha.
Sempre tive curiosidade em saber mais sobre Cilon, mas as informações sempre eram escassas, limitadas ao seu nome, foto e uma breve biografia publicadas nos livros e materiais que o PCdoB passou a publicar sobre a Guerrilha.
Dos quase 70 mortos no Araguaia, conheci três. Cilon, Helenira e Ribas. Com Helenira e Ribas nunca tive contato pessoal, apenas os encontrava esporadicamente, entre 1968 e 1969, em reuniões, assembleias e passeatas do Movimento Secundarista. Eles eram dirigentes da UBES. Mas com Cilon era diferente. Cilon era, pra mim, uma pessoa de carne e osso, com quem convivi de perto por quase um ano. Cilon era como se eu estivesse estado no Araguaia.
Conto isso para explicar porque o livro de Liniane me emocionou tanto.
Ao ler seu relato, parece que o tempo voltou e Cilon estava o tempo todo ao meu lado. O livro é ótimo e traz uma leitura diferente sobre o Araguaia. Não é uma reportagem, muito menos uma análise política ou ideológica da Guerrilha. É um singelo, emocionado e pungente depoimento pessoal de um familiar em busca de notícias e informações sobre a passagem de seu parente pelas matas do Sul do Pará.
É um relato pessoal que faltava na bibliografia sobre o Araguaia e mostra com crueza o sofrimento das famílias desses heróis do povo brasileiro que esperam até hoje os corpos de seus entes queridos para enterrá-los em paz.
O livro de Liniane tem vida, tem amor, tem emoção.
E comprova a necessidade urgente de se esclarecer definitivamente essa página da história do Brasil.
O livro de Liniane é um libelo cortante da luta dos familiares dos mortos e desaparecidos e uma prova de que nada justifica o silêncio do Estado e das Forças Armadas sobre a verdade dos anos de chumbo.
Uma frase do livro não me sai da cabeça e sintetiza tudo que senti na sua leitura: "Seu filho Cilon não foi enterrado. Foi semeado. Deixado em cima da terra como grão que um dia vai germinar", escreve Liniane numa de suas cartas à avó, informando-a sobre as notícias da busca por Cilon, que recheiam o livro e são um dos pontos fortes e emocionantes da obra. Nessa última carta, Liniane informa a avó ter descoberto que Cilon foi executado na mata, meses depois de ter sido preso pelo Exército, e seu corpo foi deixado na mata, insepulto, coberto apenas com alguns ramos de vegetação.
Liniane tem razão. Cilon foi semeado e a semente que germinou do seu corpo é a semente da liberdade!

O dia em que o Corinthians conquistou a América e fez história

Depois de uma interrupção de quase um mês, a partir de hoje volto a ativar os posts do blog, prometendo mantê-lo atualizado quase que diariamente. Como não poderia deixar de ser, vamos falar do fato mais importante da última semana: a conquista da Libertadores da América pelo Corinthians!



Uma linda e deslumbrante Lua de São Jorge brilhava nos céus de São Paulo e iluminava o Pacaembu às 23h53 do dia 4 de julho de 2012, onde 40 mil corinthianos, que representavam os mais de 30 milhões de loucos espalhados pelo Planeta, delirantemente extasiados e enlouquecidos, comemoravam o fim de mais um martírio e transformavam o velho e aconchegante Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, num verdadeiro Sanatório Geral, como bem definiu o corinthianíssimo Washington Olivetto.
Exatamente às 23h53 do dia 4 de julho de 2012, o Corinthians reescrevia a história, conquistava a tal Libertadores da América e se libertava de mais uma maldição, assim como já havia feito, anos antes, na noite do dia 13 de outubro de 1977.
A partir de agora, o 4 de julho não será mais conhecido como o Dia da Independência dos Estados Unidos, mas sim como o Dia da Independência da República Popular do Corinthians!
O Corinthians esperou 52 anos para ganhar a Taça Libertadores da América. Afinal, a Libertadores é disputada desde 1960. Ou para ser mais preciso, esperou 35 anos. Já que a primeira vez que o Corinthians participou desse torneio foi em 1977. E não 102 anos, como diziam os corvos, abutres e secadores de todos os matizes e todas as camisas.
Mas, quando ganhou, o fez em grande estilo. Como é do seu feitio e da sua tradição.
O Corinthians não é um time comum. É um time que veio para romper barreiras, para superar obstáculos, para fazer história.
O Corinthians foi campeão invicto da Libertadores de 2012, coisa que apenas um time brasileiro havia conseguido e na época em que o torneio tinha um formato menor que o atual – o Santos de Pelé, em 1963. Na época, o Santos fez apenas 4 jogos para ser campeão. 
O último campeão invicto havia sido o Boca Juniors, em 1978. E, além de Santos e Boca, apenas o Independiente, em 1964, o Estudiantes, em 1969 e 1970 e o Peñarol, em 1960, na primeira edição do Torneio, conseguiram ser campeões invictos. Todos esses times foram campeões com menos jogos que o Timão – o Penãrol fez 6 jogos, em 1960; o Independiente, 8 jogos, em 1974; o Estudiantes, 4 jogos, em 1969, e 4 jogos, em 1970; e o Boca, 6 jogos em 1978.
Este ano, o Corinthians fez 14 jogos. Haja diferença!
Além disso, o Corinthians foi campeão contra o poderoso e tradicionalíssimo Boca Juniors, coisa que nenhum time brasileiro, exceto o Santos, em 1963, havia conseguido. O Boca ganhou 4 finais de times brasileiros – Grêmio, em 2007; Santos, em 2003; Palmeiras, em 2000; e Cruzeiro, em 1977.
Ao contrário do Corinthians, campeão contra o Boca, os outros times brasileiros campeões da Libertadores ganharam seus títulos contra times de menor expressão no cenário futebolístico latino-americano. Exceções são o Santos, de Pelé, que ganhou do Peñarol e do Boca; o Cruzeiro, que ganhou do River Plate; e o Grêmio, que ganhou do Peñarol.
O Palmeiras ganhou do Deportivo Cali, da Colômbia. O Vasco da Gama ganhou do Barcelona de Guayaquil, do Equador. O Flamengo ganhou do Cobreloa, do Chile. O Cruzeiro ganhou do Sporting Cristal, do Peru. O Grêmio ganhou do Atlético Nacional, da Colômbia. O São Paulo ganhou do Atlético Paranaense, do Universidade do Chile e do Newells Old Boys, da Argentina. O Internacional ganhou do Chivas Guadalajara, do México, e do São Paulo.
Ou seja, exceto o Grêmio, que ganhou do Peñarol; o Cruzeiro, que ganhou o River Plate; o Internacional, que ganhou do São Paulo; e o Santos, que ganhou do Boca, na Era Pelé, e do decadente Peñarol, no ano passado, todos os títulos de times brasileiros foram contra adversários que nunca haviam sido campeões da Libertadores.
O Corinthians quebrou seu jejum e quebrou como gosta de fazer: fazendo história, quebrando tabus, batendo recordes.

Felizmente, eu estava lá para ver ao vivo e a cores esse momento histórico.
Depois de uma semana tensa, atrás de ingresso, acabei conseguindo os tão sonhados passaportes da alegria que permitiram que eu, meu filho Pedro Ivo, meu amigo Gilnei Rampazzo estivéssemos no Pacaembu, junto com os amigos corinthianos Samuca e seu filho Tomás, e Heraldo Pereira e suas filhas Maiara e Isadora.
Foi uma noite linda, emocionante, que ficará guardada para sempre na minha memória.
Ao final do jogo, fomos jantar no Sujinho da Consolação, tomado de corinthianos, cantando o nosso Hino e nossos gritos de guerra, e ainda tivemos a sorte de ver a bela atriz Alessandra Negrini, vestida do a camisa do Timão, entrar no restaurante, para juntar-se à quele bando de loucos.
Eram quase 3h30 da quinta-feira e as ruas de São Paulo eram palco de uma festa incontrolável. Na Praça Vilaboim, na sofisticada Higienópolis, um grupo de uns 100 corinthianos, desfilavam em volta da Praça, cantando o samba-enredo da Gaviões da Fiel, O que é com é pra sempre! - "Me dê a mão me abraça, viaja comigo pro céu, sou Gavião, levanta a taça, com muito orgulho, pra delírio da Fiel".
Foi inesquecível!